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JEAN PIAGET

JEAN PIAGET

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A PESPECTIVA DE GEAN PIAGET

A Perspectiva de Jean Piaget


Considerar a aprendizagem da criança pré-escolar em uma perspectiva de Piaget implica,

de imediato, ter em conta que este autor escreveu sobre o desenvolvimento da criança e

não sobre sua aprendizagem. Qual a diferença entre desenvolvimento e aprendizagem?

Para Piaget, a aprendizagem refere-se à aquisição de uma resposta particular, aprendida

em função da experiência, seja ela obtida de forma sistemática ou não. O desenvolvimento

seria uma aprendizagem no sentido lato e ele é o responsável pela formação dos

conhecimentos. Sendo assim, Piaget interessou-se muito mais em descrever e analisar o

desenvolvimento da criança do que suas aprendizagens.

Segundo Piaget, a criança pré-escolar encontra-se em uma fase de transição fundamental

entre a ação e a operação, ou seja, entre aquilo que separa a criança do adulto. Além

disso, é uma fase de preparação para o período seguinte (operatório concreto).

Enquanto fase de transição, o que caracteriza o período pré-escolar? Trata-se de um

período com características bem demarcadas no processo de desenvolvimento e que Piaget

chamou de pré-operatório. Este período localiza-se entre o sensório-motor e o operatório

concreto. Suponho ser útil aos professores saberem o que significa cada um destes três

períodos, para poderem apreciar a direção do desenvolvimento psicológico na perspectiva

de Piaget. Saber de onde a criança vem e para onde vai em termos de desenvolvimento é, em

uma perspectiva genética, tão importante quanto saber onde ela está, ainda que um aspecto

não anule o outro.

* Livre-Docente do Instituto de Psicologia da USP.

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O período sensório-motor caracteriza-se pela construção de esquemas de ação que

possibilitam à criança assimilar objetos e pessoas. Além disso, caracteriza-se pela

construção prática das noções de objeto, espaço, causalidade e tempo, necessárias à

acomodação (ajustamento) destes esquemas aos objetos e pessoas com os quais

interage. Tem-se um processo de adaptação funcional pelo qual a criança regula suas

ações em função das demandas de interação, compensando progressivamente, sempre

no plano das sensações e da motricidade, as perturbações produzidas pela

insuficiência dos esquemas no processo de interação.

O período sensório-motor caracteriza-se por uma inteligência prática, que coordena no

plano da ação os esquemas que a criança utiliza. É a fase caracterizada por um

contato direto, isto é, sem representação, pensamento ou linguagem, da criança com

objetos ou pessoas. Construindo (sempre em termos práticos) seus esquemas de ação

e as categorias da realidade, graças à composição de uma estrutura de grupo de

deslocamentos, a criança vai pouco a pouco diferenciar e integrar os esquemas de

ação entre si, ao mesmo tempo que se separa, enquanto sujeito, dos objetos, podendo,

por isso mesmo, interagir de forma mais complexa com eles. Lembre-se, a este

respeito, a noção de objeto permanente e suas conseqüências no processo de

desenvolvimento.

O acabamento do período sensório-motor coincide com uma novidade extremamente

importante para o desenvolvimento da criança, que é sua nova capacidade de

substituir um objeto ou acontecimento por uma representação. A função simbólica,

para Piaget, é o que possibilita esta substituição e ela significa que, agora, a criança é

capaz de duplicar objetos ou acontecimentos por uma palavra, por um gesto, por uma

lembrança, ou seja, é capaz de evocá-los em sua ausência. Trata-se de uma novidade

importante porque a interação direta, e por isso limitada, ainda que intensa, do

período sensório-motor dá lugar à interação mediada por imagens, lembranças,

imitações diferidas (isto é, na ausência do objeto ou acontecimento), jogos simbólicos,

evocações verbais, desenhos, dramatizações. Esta é a novidade específica do período

pré-operatório: poder representar, ter que substituir objetos ou acontecimentos por

seus equivalentes simbólicos, agir agora "como sé", ou seja, por simulação.

Não é que neste período a criança tenha abandonado o plano da ação em favor da

representação. Os professores de pré-escola sabem muito bem que a criança entre dois e

seis anos explora ativamente pela ação e que sua inteligência se manifesta cada vez mais e

melhor neste plano. O que observamos é, de um lado, uma presença paralela das

representações e, de outro, uma crescente melhoria delas mormente no campo de

regulações perceptivas e intuitivas. Em outras palavras, a criança neste período sofistica a

atividade sensório-motora (corre, pula, afasta-se cada vez mais de seu ambiente familiar,

pode ir e voltar de um lugar a outro com segurança etc.) e ao mesmo tempo constrói

progressivamente a possibilidade e a necessidade de representar ou simular situações.

Como a criança estrutura suas ações no plano das representações no período

pré-operatório? A resposta que Piaget deu a essa pergunta é que, neste período, a

criança estrutura as representações de forma justaposta, sincrética e egocêntrica. Seu

raciocínio é transdutivo e sua compreensão é de natureza intuitiva e semi-reversível. A

justaposição caracteriza-se pelo fato de que a criança liga as palavras, as imagens, as

representações entre si de forma analógica, ou seja, baseada em um assim como

(semelhanças e diferenças) e não em um se... então (implicação). As idéias ficam

colocadas uma ao lado da outra, por contigüidade, mas consistindo em estados e não em

transformações. Não existe, ainda no plano de representação, nenhuma ligação temporal,

causal ou lógica. A criança sabe fazer mas não compreende o que faz, no sentido de poder,

independentemente do corpo, reconstituir o que faz no puro plano da representação, ainda

não sabe organizar (estruturando as partes entre si e formando um todo) suas

representações, como sabe tão bem organizar suas ações. As ligações são, então, de

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natureza, justapostas, isto é, analógicas. Veja-se, por exemplo, as coleções figurais no plano da

classificação ou a separação em grande e pequeno no plano da seriação. O sincretismo é a

tendência de a criança, do período pré-escolar, ligar tudo com tudo, de perceber globalmente,

isto é, não saber discriminar detalhes, de fazer analogias entre coisas sem uma análise

detalhada delas. Daí o caráter egocêntrico deste período, ou seja, é difícil, por falta de recursos

cognitivos, para a criança deste período, sair de seu ponto de vista e considerar, diferenciando

e integrando, os estados e as transformações das coisas.

Tomemos um exemplo clássico de Piaget. A criança, tendo admitido que dois copos iguais têm

a mesma quantidade de água, deixa de pensar assim quando se transvasa o conteúdo de um

deles para outro recipiente de dimensões diferentes (uma tigela, por exemplo). Confunde a

forma dos recipientes (uma dimensão) com quantidade de líquido dentro deles (outra

dimensão), tal que, mudando-se uma, altera-se igualmente a outra, sem que nada tenha sido

acrescentado ou tirado. Ao dizer que tem o mesmo tanto na primeira comparação, antes do

transvasamento, e ao dizer que tem mais na segunda, faz justaposição. Ao confundir as duas

dimensões (forma e quantidade), faz sincretismo. Dois modos diferentes de ser egocêntrica. Seu

pensamento vai, então, de um particular a outro, não sendo capaz de estabelecer ligações entre

os estados. É como se fossem "slides" diferentes e não um "filme", em que a situação anterior e

a seguinte estão ligadas entre si. Daí a criança deste período não ver contradição entre

responder que os dois copos têm o mesmo tanto de água e na situação seguinte, sem que se

tenha tirado ou posto mais água, dizer que tem mais no copo do que na tigela, ou ao contrário.

Para compreender que há o mesmo, isto é, que as transformações na forma (mudança de um

copo para outro) são irrelevantes no que diz respeito à quantidade, que permaneceu a mesma,

a criança há de ser capaz de fazer uma coisa que lhe é ainda impossível no plano da

representação. Poder fazer isto a colocaria no período seguinte - o operatório concreto. Não que

a criança pré-escolar não saiba tirar e pôr: ela põe e tira água de copos muitas vezes, só que

ela faz isso no plano da ação - poder imaginar o tirar e o pôr implicaria poder fazer a ação no

plano apenas virtual, isto é, de uma possibilidade.

A criança sabe representar a ação de tirar ou pôr, mas não sabe ainda "tirar' ou "pôr" mais

água como uma representação, isto é, como uma ação virtual e não mais real. Nós

compreendemos que há o mesmo tanto de água no copo e na tigela porque não se pôs nem se

tirou água; se se tivesse tirado, teria ficado menos ou ao contrário. Supomos uma ação que não

se realizou como um argumento para dizer que ficou igual. Ora, a criança na fase

pré-operatória ainda não é capaz disso, as ações com sentido para ela são as que realiza ou vê

realizar, por isso confunde estados e não acompanha transformações irrelevantes para uma

dada dimensão (a quantidade, no nosso exemplo).

Reversibilidade é a capacidade de considerar simultaneamente uma ação e sua inversa, ou sua

equivalente, ou uma ação realizada e uma não realizada (virtual ou apenas possível). As ações

físicas (materiais), que a criança na fase pré-operatória realiza muito bem, ocorrem

sucessivamente (isto é, uma depois da outra, já que em espaço, tempo, objetos e

acontecimentos definidos) e não ainda simultaneamente, pois para isto ela terá que aprender a

opor uma ação material a uma ação virtual (realizável, mas não realizada naquele momento).

Por isso, Piaget diz que, no período operatório concreto, os estados estão agora submetidos

às transformações reversíveis. Neste sentido, o período pré-operatório é não apenas um

período de transição mas também preparatório, uma vez que é graças a ele que a criança

se prepara, no sentido de construir os recursos que lhe possibilitarão compreender, isto é,

realizar ações mentais (operações reversíveis), operar com símbolos, com valor de coisas.

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APLICAÇÕES À PEDAGOGIA

• As considerações que fizemos acima são de natureza psicológica, ou seja, descrevem o

desenvolvimento da criança no período pré-operatório. O professor precisa mais do que isso:

quer saber o que fazer com estas informações; como derivar delas uma prática pedagógica.

Supomos que esta é uma primeira decorrência: a teoria de Piaget tem um valor de

compreensão do processo de desenvolvimento da criança, ou seja, pode instrumentalizar o

professor a fundamentar sua prática e compreender a importância dela no cotidiano da sala de

aula.

• Julgamos ter considerado, ainda que muito resumidamente, a importância das atividades

sensório-motoras e as de natureza representativa (jogo simbólico, dramatização, linguagem,

memória, imagem mental, desenho) para o desenvolvimento da criança. O ambiente pedagógico

da criança em fase pré-operatória propicia estas atividades espontâneas? Os materiais que o

professor oferece são tais que facilitam a atividade de seriação, classificação, enumeração,

correspondência? A criança dispõe de jogos (mecânicos ou de construção) para que, pouco a

pouco e de modo espontâneo, possa desenvolver suas noções de causalidade? O professor

desperta a curiosidade da criança e estimula a pesquisa por parte dela com os materiais? O

professor faz perguntas, desencadeia problemas ou dá soluções? O professor busca novas

maneiras de estimular a atividade da criança e muda de método à medida que ela coloca novas

perguntas ou imagina novas soluções? Quando as soluções da criança são erradas ou

incompletas, o professor propõe contra-exemplos ou atividades alternativas e sugestivas ao

problema, tal que a criança possa encontrar novas soluções por meio de sua própria atividade?

Nota: Para Piaget, um dos principais objetivos da educação pré-escolar deveria ser o de

ensinar a criança a observar os fatos cuidadosamente, em especial quando estes são contrários

aos previstos por ela. Em outras palavras, observar, perguntar, interpretar e registrar (ao modo

da criança deste período, obviamente) são atividades fundamentais, no pensar de Piaget.

• A natureza preparatória e transitiva do período pré-escolar indica a importância de as

crianças deste período terem muitas atividades com seus pares, ou seja, é fundamental a

formação de grupos de crianças, coordenadas ou não pelo professor, mas de preferência sem a

interferência deste, tal que possam, entre si, brincar, falar, discutir, resolver problemas

práticos. A passagem da ação à operação exige a possibilidade de a criança reconstruir suas

ações no plano da representação, descentrar-se de seu próprio ponto de vista ou de sua ação e

enfrentar o julgamento e aceitar a cooperação do grupo. Por isto, Piaget considera que o

segundo aspecto importante da educação pré-escolar é o desenvolvimento de habilidades de

comunicação. Isto é, agora não basta mais à criança realizar as ações, é preciso que ela fale

delas para outrem, que as reconstitua por via narrativa e que aprenda a descrevê-las; em

palavras, quadros e desenhos. Por isto, tanto do ponto de vista da socialização da criança como

de seu desenvolvimento intelectual, é importante que tenha experiência de trabalho em equipe.

• Defender a atividade espontânea da criança, a vida em grupo, a manipulação e a

experimentação com materiais não significa que o professor deva ser permissivo e passivo

diante delas. Não significa também dar-lhes lições e usar de sua autoridade para determinar o

curso dos acontecimentos. Como diz Piaget, "compreender sempre significa inventar ou

reinventar e cada vez que o professor dá uma lição, ao invés de possibilitar que a criança aja,

impede que ela invente as respostas".*

* PIAGET, Jean. Como se desarrolta lamente del nino. In Los anos postergados: la primera infancia, p. 69.

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• Mas o que se reivindica para a criança há, também, de ser reivindicado ao professor. Ou

seja, tem ele liberdade e responsabilidade para inventar ou experimentar suas próprias

técnicas, para defender seus pontos de vista? A autonomia da criança e seu desenvolvimento

no sentido de formar um pensamento operatório, reversível, graças ao qual poderá

compreender e optar, determinando seu destino, só é possível se o professor puder desenvolver

também sua própria autonomia, se ele puder falar e defender seus pontos de vista e sua

experiência na sala de aula. Por isto, me agradam o objetivo e a forma deste encontro. Práticas

governamentais que determinam o que o professor deve fazer na sala de aula, a teoria vigente

para explicar e compreender o desenvolvimento, apesar das boas intervenções promover a

melhor educação da criança - pode resultarem fracasso. Espero, por isto, que ao lado deste

texto, o professor possa escrever o seu, tirado de sua experiência e reflexão sobre sua prática, e

que, ao fazer isto, corrija, aperfeiçoe, acrescente e reformule ambos os textos.

Um comentário:

  1. pelo que entendir piaget questionava a respeito do desenvolvimento da criança na qual seus processos de ensino de aprendisagem formulavam aspectos tais como: sensorio motor pre- operatótio operatório cocreto e operatório formal. articulando cada uma delas em seu desenvolvimento.

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